Entrevista

Salvador Allende foi o primeiro presidente de origem socialista eleito pelo voto direito. O modelo político implementdo foi importante porque lutou contra a forma de governar da elite mundial durante a Guerra Fria.

Especialista em Jornalismo Internacional pela PUC-SP e mestre em Ciências da Comunicação pela USP, o professor de Jornalismo Alexandre Barbosa tem um sítio (http://www.latinoamericano.jor.br/) voltado para a América Latina. Gentilmente ele concedeu uma entrevista ao blog para ajudar a compreender melhor a importância do 11de setembro.

Pensando no dia-a-dia: Qual a importância da eleição de Salvador Allende para a América Latina?
Alexandre Barbosa: Allende foi o primeiro presidente marxista, com uma plataforma socialista a ser eleito pelo voto direto. E isso aconteceu justamente na América Latina, que era um quintal estadunidense. Além disso, era uma época em que, graças à Revolução Cubana havia uma série de movimentos armados pelo continente e muitos planejavam derrubar as ditaduras respectivas e implantar governos socilistas, com no Brasil. A eleição de Allende trouxe de volta a perspectiva para a esquerda da chegada ao poder pela via pacífica. Entre as medidas adotadas estava a nacionalização de minas de cobre; Muitas pertenciam a companhias norte-americanas.

Pensando no dia-a-dia: Os estadunidenses eram contra a ditadura cubana e soviética. Mas porque apoiram golpes na América Latina e, especialmente, no Chile?
Alexandre Barbosa: Na verdade, desde a Revolução Cubana os EUA tinham como meta impedir o surgimento de uma nova "Cuba" a qualquer custo. Por isso apoiavam regimes que, por mais duros e sanguinários que fossem, detivessem a avanço das esquedas.

Pensando no dia-a-dia: Mesmo com o desemprego, inflação a e falta de alimentos básicos o povo apoiava o governo de Allende. Por que um levante popular não conseguiu deter o golpe?
Alexandre Barbosa: É preciso compreender a história chilena para entender o período. O que aconteceu nos últimos anos de Allende um lockou, ou greve de empresários que patrocinaram também paralisações de caminhoneiros por exemplo. Isso gerou um desabastecimento. A esquerda sabia que esses produtos eram consumidos pela elite que os comprava no mercado negro. De fato, no dia seguinte ao golpe esses produtos voltaram aos mercados. A esquerda tentou combater o lockout ocupando fábricas  e coletivizando a produção, mas o golpe chegou antes.

Pensando no dia-a-dia: Quais foram os maiores impactos sociais do golpe e da ditadura chilena?
Alexandre Barbosa: Primeiro ela derrotou a única tentativa da esquerda na América Latina, até então, de chegar ao poder pela via eleitoral. Foi uma derrota que, associada depois à derrota das guerrilhas, gerou um recuo da esquerda que não soube se articular nesse período. Por outro lado o golpe a morte e desaparecimento de mais de 3 mil pessoas. Outra consequência foi, já durante os anos 80, a implantação do neliberalismo. Foi no Chile que os primeiros passos  do modelo neoliberal foram implantados. Como era uma ditadura, ficava mais "fácil" a retirada dos direitos sociais.

Pensando do dia-a-dia: A Guerra Fria acabou com a queda do muro de Berlin, mas parece que o medo do socialismo na América Latina ainda permanece. Por quê?
Alexandre Barbosa: Há uma elite autóctene associada ao capital estrangeiro que desde a época colonial se encastelou  no poder. O latifúndio na América Latina, por exemplo, é herdeiro do processo de exploração colonial e dos governos de pactos  de elite que se sucederam. Portanto, é muito difícil que essa elite abra mão do seu poder.

Comentários

Alexandre Souza disse…
Muito bom Thiago, o Ale além de ser um bom professor, tem uma visão e um aprofundamento histórico muito interessantre.

Parabéns!

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