Pão Francês e Pão de Açúcar

Por Ivan Jubert

Coisas estranhas acontecem aqui neste país. O Grupo Pão de Açúcar, anos atrás, foi crescendo e aumentando de tamanho assustadoramente nos anos setenta, comprando todo supermercado que via pela frente, fosse uma rede tradicional como Peg-Pag, Barateiro, Sé ou lojas de pequeno porte. Tornou-se líder do setor com um faturamento muito grande e um poder de compra descomunal que pôs fim a pequenos fornecedores que ficaram à mercê do gigantismo do grupo liderado por Abílio Diniz. Abriram lojas até em Portugal.

Apesar do poderio de compra e da pressão exercida sobre seus fornecedores, as lojas do supermercado nunca foram campeãs no quesito preço. Muitas marcas desapareceram do mercado, pois passaram a rotular seus produtos com as marcas do grupo Pão de Açúcar.

O crescimento desordenado do Grupo fez com que quase acontecesse a falência do Pão de Açúcar que começou fechando lojas, vendendo sua sede principal na Avenida Berrini e demitindo funcionários, muitos funcionários. Abílio, praticamente expulsou a família Diniz da direção do grupo e passou sozinho a administrar seus negócios. Isso foi lá pelos meados da década de oitenta.

Ainda na década de setenta surge o mocinho francês Carrefour que prometia preços sempre inferiores ou que devolveria o dinheiro pago a mais em suas lojas. O Carrefour adotou uma técnica até que inteligente, pois suas primeiras lojas ficavam em lugares de difícil acesso, só se chegando lá de automóvel. Foi uma seleção natural de consumidores que tinham um bom poder de compra. O Carrefour também cresceu e tornou-se a maior rede de varejo do país em faturamento, mesmo com um número inferior de lojas em comparação com o Pão de Açúcar.

Mas chega um ponto em que ou se cresce mais ou se é engolido pela concorrência e o Carrefour também começou a comprar pequenas redes, incluindo-se aí a rede Eldorado. Abriu lojas em Shoppings e foi perdendo o que tinha de melhor que eram os bons preços das prateleiras e gôndolas, dada a elevação de seus custos operacionais. Perdeu, inclusive, a liderança em faturamento para o Pão de Açúcar que voltou a ser o maior centro distribuidor varejista do país.

Agora, poucas décadas depois, a gente vê que uma fusão está prestes a acontecer entre as duas maiores redes de supermercados. Não se trata bem de uma fusão, mas da compra do Carrefour pela rede Pão de Açúcar. Há dinheiro para isso? Claro que não. Quem vai financiar a compra é o BNDES, ou seja, nós.

Falando apenas de São Paulo, há lojas das duas redes uma de frente para a outra ou quase do lado uma da outra. Manda o bom senso que uma delas seja fechada e isso irá gerar um grande desemprego no setor.

Fala-se, contudo, que a fusão irá facilitar a penetração de produtos brasileiros no mercado europeu. Balela! Mentira! Com essa fusão, o Novo Pão de Açúcar terá um monopólio do comércio varejista no país e inibirá que algum pequeno comerciante entre para este ramo e, mais uma vez, quem sairá perdendo é o povo. Este povo idiota que ainda irá se vangloriar de comprar em uma das maiores redes de supermercados do mundo. Sem direito de escolha de sua marca preferida, mas obrigado a comprar marcas da rede, como já acontece hoje. Pequenas e médias fábricas de compotas fecharam suas portas e hoje produzem apenas para Carrefour e ao de Açúcar e isso acontece com arroz, feijão, margarinas, leite e uma infinidade de produtos.

Já neste século XXI o Pão de Açúcar comprou as Casas Bahia num negócio milionário.

Distribuição de renda? Só se for para os bolsos do senhor Abílio Diniz. Parece que os dias de cativeiro de anos atrás não o tornaram mais humilde.

Ivan Jubert Guimarães é Escritor e autor do "Blog de Pensamento Liberal" e do sítio "Pensamento Liberal".

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